Como a cultura do compartilhamento nas redes sociais tem influenciado os processos seletivos?
Se você entrevistador passou a conduzir processos seletivos parcial ou totalmente on-line, significa que a era digital já chegou para você! E tenha certeza, de que as mudanças não pararam por aí, no que diz respeito ao contato presencial com o entrevistado, pois todo o processo seletivo para esta geração deve ser repensado, e para isso, selecionei alguns tópicos mais relevantes da atualidade que se referem a preparação de um processo seletivo. Temos algumas etapas comuns de processos seletivos que muitos de nós provavelmente já passaram em nossas trajetórias profissionais, entretanto que precisam ser revistas. Para se obter um processo seletivo robusto, atual e efetivo, onde você conseguirá atrair os talentos que a sua organização realmente precisa para atender as suas necessidades atuais e futuras, a gestão do capital humano precisa se atualizar em termos de processos e comportamos, tendo em vista que a posição passiva exercida pelo entrevistado, não se aplica para a geração Millennials, e onde as etapas durante o desenrolar das entrevistas e os seus resultados, que antigamente eram quase de um sigilo absoluto, agora são compartilhados em tempo real nas redes sociais, ao alcance dos colaboradores existentes e futuros, clientes e acionistas da companhia. Onde o julgamento do sucesso de um processo seletivo, não está mais nas mãos dos dirigentes da companhia, de modo que o olhar crítico e o papel de juiz de caso, passou a ser de toda a sociedade.
Podemos iniciar essa aventura de atrair um Millennial para a sua organização, por meio da abertura de programas de estágio e trainee. Atualmente abrir um programa seletivo para estágio ou trainee onde o público majoritário que está se candidatando para estas posições pertence a geração Millennials, pode impactar em até queda das ações da sua companhia! se a mesma não levar em consideração os aspectos sociais, culturais, econômicos, ambientais e tecnológicos pelos quais a sociedade está passando, de modo a se fazerem relevantes as criações de movimentos em redes sociais que em sua maioria partem dos Millennials, pois nós entendemos que as atividades econômicas exercidas pelas empresas hoje, irão impactar o nosso futuro, onde muitas pessoas que estão no nível executivo de grandes empresas na atualidade, poderão nem estar mais vivos para colher os resultados de suas tomadas de decisão no futuro próximo, por isso nós Millennials cobramos que as mudanças ocorram o mais rápido possível, pois sabemos que nós seremos os maiores prejudicados quando atingirmos a nossa meia e maior idade, onde colheremos os frutos das decisões que são tomadas hoje. Movimentos e ações com relação a questões de mudanças climáticas, onde se não forem conduzidas de forma eficiente e rápidas, não haverá segunda chance para nós corrigirmos o estrago feito ao nosso planeta, quando atingirmos posições de comando em organizações públicas ou privadas e outro movimento muito forte nas redes sociais é o da população afrodescendente no mercado de trabalho, segundo o IBGE (2018) mais de 55,4% da população brasileira se declara negro ou pardo, contudo uma pequena minoria chega a cargos de liderança nessas organizações.
Tomando como exemplo uma ação feita no Brasil com repercussão internacional, relacionado a processos seletivos, com o objetivo de causar um impacto interno na companhia de correção racial do seu quadro de colaboradores, podemos citar o episódio do Magazine Luiza, onde a sua área de gestão do capital humano criou um programa de trainee cujo o foco era atrair candidatos da etnia negra os quais pudessem ao fim do programa, ingressarem em posições de liderança na companhia, pois hoje o número de negros ocupando posições de liderança dentro do Magalu, não reflete a diversidade de colaboradores nos cargos mais inferiores, de modo que o programa colaboraria para direcionar de forma efetiva uma ação de correção para um problema interno, que antes não havia sido percebido pela companhia. A princípio essa notícia gerou um desconforto (positivo e negativo) geral nas plataformas de mídias sociais, comunicação e foi parar até no Tribunal de Justiça do Trabalho, contudo, tanto a Defensoria Pública da União quanto o mercado de ações julgaram positiva a ação da companhia, resultando em um aumento de 2,6% nos papéis listados na Bovespa! Se foi uma estratégia de marketing ou não, o que podemos tirar de aprendizado é que, as empresas devem se adaptar a este cenário onde, os seus processos seletivos, requisitos, andamentos e os resultados das entrevistas, serão compartilhados a níveis nacionais e internacionais por meio de nossas redes sociais como Twitter, LinkedIn, Facebook, Instagram e Whatsapp, podendo afetar negativamente os resultados financeiros da companhia, caso seja julgado pelo público, que essa empresa tomou decisões errôneas durante os seus processos de contratação de novos colaboradores.
Outro caso que foi muito divulgado nas redes sociais, foi o processo seletivo para trainees 2020 do banco Itaú, onde o banco havia publicado uma foto em seu perfil público na plataforma do LinkedIn, a qual foi recebida com muito espanto pelos seus seguidores, uma vez que, nesta foto a quantidade de negros aprovados em seu processo seletivo que contou com mais de 72 mil inscritos, era quase inexistente de um total de 125 finalistas, o resultado foram diversas críticas ao banco, não apenas dos candidatos que não foram aprovados, quanto também dos seus clientes, comentários como “Nós negros só servimos para sermos seus clientes”, “Diversidade no Itaú é apenas propaganda de TV”, dentre outros. Em resposta às críticas feitas nas redes sociais, o banco publicou uma nota dizendo que “Reconhecemos que o resultado do processo de seleção de trainees deste ano, mesmo com as mudanças que fizemos para torná-lo mais inclusivo, não reflete a diversidade que todos nós gostaríamos de ver. A experiência deste ano servirá de aprendizado para fazermos correções para os próximos processos. ”
Como havia escrito no meu primeiro artigo “Contratei um Millennial…e agora! ”, já havia comentado que estamos buscando por empresas transparentes com os seus colaboradores e comunidade, de modo que qualquer campanha de marketing das empresas em mídias sociais, nós iremos monitorar para saber se a proposta se tornou realidade ou ficou apenas no discurso bonito para embelezar a imagem da companhia.
Quando eu comecei lá no quarto semestre da faculdade de Administração de Empresas, onde costuma-se ser o período mais adequado para se procurar por vagas de estágio e trainee, sempre nos foi aconselhado pelos consultores de carreira, que deveríamos tomar cuidado com o que compartilhamos em nossas redes sociais, pois os recrutadores iriam pesquisar pelo nosso perfil em determinada etapa do processo seletivo, para verificar se o nosso comportamento durante as entrevistas, se confirmavam com o que nós estávamos compartilhando em nossas páginas pessoais nas redes sociais. Com certeza qualquer Millennial já ouviu este conselho e foi dar uma conferida no seu histórico de publicações para ter certeza que não havia nada fora do lugar.
Será que este conselho dado há pouco menos de dez anos atrás, continua valido hoje? Sim, continua valido! Contudo, agora é uma via de mão dupla. Não pense você entrevistador que só você fará perguntas sobre o nosso comportamento nas redes sociais durante as entrevistas, de modo que nós Millennials, estamos fazendo muito bem a nossa lição de casa ao realizar buscas prévias sobre a realidade do dia a dia da organização a qual iremos participar do processo seletivo, e sugerimos que vocês se prepararem também para nos responder! Passamos a pesquisar sobre tudo relacionado a empresa que estamos nos candidatando a um processo seletivo, como por exemplo: Como a empresa está se posicionando em relação as mudanças climáticas? Quais as medidas adotadas pela companhia em termos de sustentabilidade social, econômica e ambiental? Se a empresa tem adotado medidas para ajudar no desenvolvimento da infraestrutura básica do país e de sua população, de modo a nos tornarmos uma potência global e deixarmos de ser um país subdesenvolvido? Verificaremos também os processos anteriores de estágio e trainee, e questionaremos por que nas fotos tem mais homens do que mulheres? Por que não temos um número razoável de pessoas negras aprovadas no processo seletivo? Se existe alguma política de equidade salarial na empresa para homens e mulheres? Como a empresa tem trabalhado a diversidade no seu ambiente de trabalho? E quando falamos em diversidade, este tema é bem amplo mesmo, pois queremos saber como a empresa está lidando com as questões de gênero sexual, diferentes gerações trabalhando em conjunto, pessoas com deficiência e questões étnico-racial.
A mudança da entrevista passiva exercida pelo candidato a uma vaga de emprego durante o seu processo seletivo, que hoje passou a ser muito mais ativa, não significa que nos tornamos uma geração mais arrogante ou que não precisamos do emprego, pelo contrário, como disse no meu artigo anterior, somos muito curiosos, digitalmente conectados, com fácil acesso a informações e plataformas de interação com ex-funcionários dessas empresas, de modo que vamos buscar na fonte a realidade do dia a dia da companhia. Temos o hábito de compartilhar tudo o que acontece em nossas vidas pessoais e profissionais com nossas comunidades, e ao mesmo tempo não nos importamos de trocar de emprego em um curto espaço de tempo, uma vez que nos foi vendida uma vaga de emprego cuja realidade do ambiente de trabalho não condiz com o que nos foi apresentado durante o processo seletivo, precisamos ter transparência e confiança desde o princípio entre companhia e colaborador, pois uma relação de trabalho que já começa com mentiras e enganações, com certeza não resultará em benefício para ambos.
Antônio Diniz é um Millennial formado em Administração de Empresas com Especialização em gestão estratégica de marketing e vendas pela FIA-USP. Possui mais de 12 anos de trabalho com vendas, gestão de contas estratégicas, atendimento ao cliente e comércio exterior. Atuando em multinacionais no Brasil e na Ásia. Atualmente é Gestor de Contas Estratégicas e Líder de vendas de soluções digitais na SKF Group para a Malásia, residindo em Kuala Lumpur. www.linkedin.com/in/antônio-diniz
Fonte:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf