Lidia Abdalla

Nome completo: Lidia Abdalla

Nacionalidade: Brasileira

Formação: Farmácia-Bioquímica pela Universidade Federal de Ouro Preto

Ocupação: Presidente Executiva – CEO Grupo Sabin

Lídia Abdalla é a CEO do Grupo Sabin, com mais de 20 anos de dedicação à empresa. Sua jornada começou em Minas Gerais, formando-se em Farmácia-Bioquímica. Progressivamente, alcançou cargos de liderança, investindo em conhecimento com mestrado em Saúde e MBA em Gestão Empresarial. Sob sua gestão, a empresa cresceu, focando em sustentabilidade e transformação digital.

Valoriza relações interpessoais e busca profissionais comprometidos com o desenvolvimento. Inspirada por mulheres fortes, defende a equidade e a responsabilidade social.

História publicada na revista Exame

https://exame.com/colunistas/historias-de-sucesso/responsabilidades-sociais-constituem-o-legado/

Responsabilidades sociais constituem o legado

Na coluna desta semana, conheça a história de Lídia Abdalla Presidente Executiva – CEO Grupo Sabin

Carreiras são desenvolvidas de formas distintas e se adequam às características de cada indivíduo, respeitando suas trajetórias, escolhas, acertos e erros (Lidia Abdala/Sabin/Divulgação)

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Histórias de sucesso

Publicado em 3 de março de 2023 às, 15h40.

Por Fabiana Monteiro

Carreiras são desenvolvidas de formas distintas e se adequam às características de cada indivíduo, respeitando suas trajetórias, escolhas, acertos e erros. Sempre estive envolvida no setor da Saúde, e me orgulha fazer parte da história de uma empresa genuinamente comprometida em deixar um legado de responsabilidade. No Grupo Sabin, empresa a qual me dedico há mais de vinte anos, tenho o orgulho de viver e de compartilhar experiências enriquecedoras, que contribuem para a minha evolução profissional e como pessoa.

Sou movida pelo conhecimento, e foi essa vontade de aprender que levei na bagagem quando, aos 14 anos, decidi sair da minha terra natal, Alpinópolis, em Minas Gerais, e buscar novos horizontes, cursar o segundo grau, fazer o cursinho e a faculdade. Recebi apoio irrestrito de meus pais, Amadeu e Dinorah, que mesmo à distância estavam presentes no meu dia a dia e dos meus três irmãos. Essa base familiar foi imprescindível nesta jornada, meus pais me deram o apoio necessário para me fazer forte até nos momentos mais delicados, transmitindo os valores da honestidade, da integridade, da humildade e a importância do trabalho. Emociona-me “olhar no retrovisor” dessa trajetória e ver que todo o esforço dos meus pais em nos proporcionar educação de qualidade nos trouxe resultados concretos, e eles fizeram isso sem jamais nos privarem da liberdade da escolha profissional.

Cheguei a Belo Horizonte, fiz meu segundo grau e me preparei para o vestibular, com objetivo de cursar Medicina, mas o destino me levou à Universidade Federal de Ouro Preto, onde me graduei em Farmácia-Bioquímica, em 1998. Entre as aulas teóricas e práticas, estava com novas oportunidades de conhecimento, que sem medo abracei, a fim de aprimorar minha atuação na carreira que escolhi.

No segundo ano de faculdade eu tive a certeza de estar no caminho certo. As experiências no universo acadêmico me inspiraram na escolha pela área de Análises Clínicas. Muito motivada em desbravar o mundo dos laboratórios, foi na vida acadêmica e científica que também descobri o amor. Entre idas e vindas da universidade, conheci o Andrey, que hoje é meu marido, nos apaixonamos e ali começamos a escrever a nossa história. Ele, graduado um ano antes de mim, teve que partir para Brasília a trabalho. Pouco tempo depois, também cheguei à capital federal, onde nos casamos em 2001 e recebemos o nosso maior presente. Depois de seis anos de união em 2007, nasceu Lucas, nosso filho, e outro MBA: a maternidade – a diferença é que, neste caso, só temos a data de início e o ciclo de aprendizado é eterno.

Em Brasília, foi preciso resiliência para as adversidades encontradas ao tentar me inserir no mercado de trabalho, mas nada me tirou o “brilho dos olhos”, e continuei firme no meu propósito. Acredito que muitos dos desafios vividos naquela época me fortaleceram e expandiram minha visão, melhorando minha atuação profissional, primeiro em drogarias, e numa farmácia hospitalar, mas sem desistir de desenvolver minhas habilidades dentro de um laboratório.

Foi quando conheci o laboratório Sabin. Na época, era o terceiro em termos de tamanho em Brasília e, até então, longe de ser um dos maiores players do setor no país, como é hoje. Em 1999, durante uma conversa com um grupo de amigos, soube de uma oportunidade na empresa e me candidatei. Pouco depois, recebi o chamado e fui contratada para uma vaga de trainee – sem saber, eu iniciava a jornada mais importante da minha carreira.

Abri mão dos outros dois trabalhos que exercia (cumpria meio período em uma drogaria e outro turno no hospital). Não foi uma decisão fácil, mas eu estava ciente e convicta que estava diante de uma oportunidade única de realizar meu sonho profissional. Decidi me dedicar ao cargo de trainee no Sabin com total exclusividade, e minha dedicação foi reconhecida. Pouco tempo depois, fui efetivada em período integral. Comecei na área técnica, me tornando, em seguida, coordenadora do setor de endocrinologia e imunologia, e depois gerente técnica e supervisora.

Eterna curiosa e apaixonada pelo conhecimento, como sou, não deixei passar as oportunidades de crescimento. Mantive focada em estar constantemente atualizada. Investi em aprendizado, e concluí o mestrado em Saúde na Universidade de Brasília, além de outras especializações na minha área. A rotina dentro do Sabin também me trouxe ensinamentos e me permitiu compreender a complexidade dos processos técnicos de um laboratório, mas eu queria mais! Minhas expectativas me impulsionaram a buscar por conhecimentos também na área de Gestão. Sentia necessidade de trabalhar e de aprender sobre processos, liderança de equipes, e tracei metas mais ousadas. Motivada, especializei-me, agregando mais conhecimento ao meu know-how, a fim de progredir na empresa.

Evidentemente, atingir tais objetivos demanda planejamento e dedicação – além de sempre estudar muito, e é preciso coragem. Sou da área da Saúde e realizar a transição de carreira foi um grande desafio. No meu caso, tratava-se de sair da área técnica e migrar para a gestão. Portanto, precisava ter expertise e formação administrativa e financeira

Para além do conhecimento teórico: disciplina, determinação e inspiração

Quando entrei no Sabin conheci a história inspiradora da empresa, fundada por duas mulheres, as doutoras Janete Vaz e Sandra Costa, duas bioquímicas que começaram muito jovens e superaram cenários adversos para transformar em realidade o sonho de entregar medicina diagnóstica de qualidade à população brasileira.

Naquele momento, não estava entre as minhas prioridades chegar à Presidência do grupo, mas quando os caminhos começaram a trilhar dessa forma, decidi que era hora de seguir, mas sempre com muita atenção e, principalmente, sem “saltar degraus”. Não havia, até então, um planejamento para ocupar essa posição. Meu objetivo era crescer e me desenvolver, incorporando mais conhecimento à minha vida. Quando decidi dar um passo adiante e me dedicar com segurança e coerência a outras áreas da empresa, entendi que era fundamental me dedicar à liderança.

Conhecimento, disciplina e muita determinação foram imprescindíveis nesse processo, e assim ingressei no mestrado em Ciências da Saúde, na Universidade de Brasília (UnB), e, em seguida, fiz o MBA em Gestão Empresarial, na Fundação Dom Cabral (FDC). Cada passo adiante na escala corporativa era inspirador para eu me tornar uma profissional resolutiva para novas demandas dentro da empresa. Assim, ainda como gerente técnica, assumi o segmento de supply chain, e depois me tornei superintendente, integrando o setor de tecnologia ao meu comando. Novos encargos com os quais precisava me familiarizar. Fui buscando outros aprendizados acadêmicos, investi na troca de experiências, fiz muito benchmark, mantendo a mente aberta para adquirir outras competências e aprender. Concomitante, mantive a atenção às minhas áreas de especialização.

Antes de assumir a Presidência, estava dedicada à gestão das áreas hospitalares e de coletas das nossas unidades de atendimento ao cliente. Nessa posição, ao lidar com o supply chain, compras, suprimentos, precisei entender melhor sobre finanças, logística e contabilidade, um marco enorme em termos de progresso profissional. Para melhorar minha entrega, investi nos cursos da Fundação Dom Cabral, e com o programa de desenvolvimento de dirigentes da instituição, fortaleci outras habilidades.

Profissional e empresa em constante evolução

Fui muito questionada sobre a decisão de construir minha carreira em uma única empresa, o que rebato com veemência. Ao olhar as três décadas de história do Sabin, e o meu crescimento na empresa nos mais de 20 anos, consigo ver o quanto evoluímos juntos. Tenho a convicção que fiz a escolha certa. A partir do momento que o Sabin decidiu implantar a governança corporativa e transferir a gestão da empresa para a Direção Executiva, passamos por transformações profundas que mudaram nossa visão do todo. Melhoramos nossa atuação, pautamos estratégias mais assertivas, crescemos de forma sustentável, planejada e orientada, e apoiada pelo Conselho de Administração. Sinto orgulho de ter participado ativamente desse processo, liderando projetos relevantes até assumir a Presidência, em janeiro de 2014, e depois liderando a execução da estratégia da empresa. São fases importantes de amadurecimento que se refletem nos resultados que temos hoje: somos uma das maiores empresas do setor com alto nível de eficiência e qualidade na entrega para nossos clientes.

A evolução da Sabin inspirou a implantação de estratégias focadas em uma atuação mais abrangente. Em 2009, a empresa criou três superintendências: a Administrativa, a Comercial e a Técnica – que estava sob a minha gestão. Depois, o núcleo tecnológico também foi inserido no segmento, unindo-se aos setores financeiros e contábeis.

Naquela época, a tecnologia utilizada no setor de Saúde não se comparava aos recursos atuais, e tinha menos impactos no mundo corporativo. A partir de uma visão holística dos negócios, a empresa enxergou a necessidade de crescer e, em meados de 2013 – diante de um mercado imerso na grande transformação digital, apostamos em um dos projetos mais desafiadores da minha carreira: o plano de expansão do Grupo Sabin pelo Brasil. Foi o turning-point crucial para deixar a área técnica, e assumir a Presidência Executiva do Grupo Sabin. Foram processos gradativos com aprendizados e insights essenciais para a minha jornada. A conexão com outros líderes me influenciou a buscar o meu melhor, sem nunca esquecer os valores que meus pais me passaram.

Também é salutar mencionar como as mulheres me inspiraram durante o percurso até aqui. Aprendi observando minha mãe, uma mulher forte, que criou três filhos, cuidando da nossa família, atuando como professora e empreendendo ao abrir uma loja de confecção de roupas, além de montar um comércio de tecidos, ao lado do meu pai. Também trago os exemplos das doutoras Janete e Sandra, que além de grandes inspirações foram também mentoras e me guiaram, especialmente, quando precisei incorporar novas responsabilidades. Mulheres que foram decisivas na construção da minha carreira profissional e de liderança, fundamentais para vislumbrar uma carreira sólida e equilibrada com a vida pessoal, promovendo êxito nestas frentes.

O ambiente de trabalho saudável

Um dos grandes aprendizados que tive é que o profissional não deve acreditar que detém todos os conhecimentos acerca de suas atribuições. Esse é o ponto principal na formação de um líder. Essa posição requer a responsabilidade de inspirar e jamais desconsiderar a busca por novos conhecimentos – um erro primário, que gera limitações.

O conhecimento técnico, as hard skills, assim como as soft skills, capacidades relacionais, são ferramentas que devem ser incorporadas por todos os atores envolvidos. Cada vez mais entendemos a importância de estarmos adequadamente preparados para as relações interpessoais. A forma como alguém se relaciona com o colega, o líder, a equipe propicia a criação de um ambiente de trabalho mais saudável, embasado em princípios como empatia, senso de coletividade e cooperação, tornando os processos mais férteis.

É isso que analiso ao incorporar alguém em minhas equipes. Trata-se de uma tarefa que vai além das competências técnicas, do conhecimento específico, demanda ser um profissional que esteja sempre buscando se autodesenvolver, além do que a empresa oferece. Com a disponibilidade de tantos cursos, ampla oferta de MBAs, há grande espaço para ampliar as habilidades comportamentais, independentemente do nível hierárquico, para exercer um cargo de liderança. Temos essa prática na Sabin: ao integrar novos colaboradores às nossas equipes, observamos muito além das competências técnicas e do conhecimento específico. Buscamos profissionais que querem também se desenvolver, além do que a empresa oferece. Queremos talentos com a gente, e com disponibilidade para ingressar nos cursos de aperfeiçoamento, para ampliar habilidades comportamentais, independentemente do nível hierárquico.

Essa fusão de competências técnicas com a visão humana mais lapidada foi bem contemplada durante a Pandemia de Covid-19. Durante a crise sanitária, compreendemos a importância de exaltar nossas relações, não somente no âmbito corporativo, mas na vida pessoal, junto aos familiares e aos amigos. A distância nos afetou significativamente, e ter uma rede de apoio foi essencial para seguirmos firmes e valorizarmos ainda mais o que temos.

No aspecto profissional, entendi também sobre a sensibilidade de exercer um cargo de liderança na área de Saúde. Vivemos dias de muitas incertezas, mas sabia que, mais que nunca, era preciso passar às nossas pessoas a mensagem da confiança e da união. Este é um exemplo de como a liderança pode ser aprendida com técnicas que aprimoram a atuação e com metodologias que levam a outro patamar.

Para exercer liderança de forma efetiva e impactar positivamente a vida das pessoas, o exemplo da experiência de vida prevalece. Quem está à frente precisa saber que pode ser frágil, sem se limitar no pensamento da perfeição ou de considerar que cometer erros é algo imperdoável. Ao contrário: isso proporciona mais humanidade, empatia e compaixão nas nossas relações com os outros, dentro das equipes, da empresa, impactando as pessoas que estão em nosso entorno. Algo que foi fundamental para que eu ampliasse minha capacidade de aprender a ouvir, de desenvolver a escuta ativa.

A cadeira de liderança requer competências singulares, como ouvir mais para aprender coisas novas, ter percepções claras sobre o todo para resolver algo que ainda não é visível e tomar decisões mais estratégicas e assertivas. Encerrar o ciclo de aprendizado jamais deve ser considerado por quem almeja alçar etapas maiores na carreira.

Responsabilidades sociais constituem o legado

Precisamos olhar para o nosso futuro e pensar como podemos deixar um mundo melhor para os nossos filhos, para as próximas gerações. A atuação das lideranças é fundamental para termos uma sociedade mais justa, equânime, com foco no impacto que nossas ações têm no âmbito socioambiental. É preciso cuidar com muita seriedade do nosso planeta, dos nossos recursos naturais, cada vez mais escassos.

Então, para quem esteja iniciando a carreira, ingressando no mercado de trabalho, montando o seu negócio, apostando no empreendedorismo, trago uma reflexão pertinente: observe atentamente a estratégia de negócios e mantenha entre as prioridades da agenda a pauta de diversidade e de inclusão. Acreditar em uma sociedade mais justa e ter o compromisso com o meio ambiente, também são fundamentais. São fatores que devem possuir o mesmo nível de importância na administração empresarial. Foque no desempenho, no resultado financeiro dos negócios aliados às pautas de inclusão, de diversidade e de preocupação com o meio ambiente, para que possamos em breve viver um mundo melhor.

Eu acredito muito nesta nova geração que entra hoje no mercado. São jovens mais conscientes e que têm nas mãos o poder de transformar o mundo. Estão aptos para enfrentar cenários adversos e lidar com assuntos até pouco tempo descartáveis. A equidade entre os gêneros ainda é uma pauta que precisa avançar, mas eu vejo potencial nesta nova geração de mulheres cada vez mais engajadas na luta pela equidade e na conquista para ocuparem seus espaços.

Ainda estamos em meio a um cenário delicado e, para superá-lo, é preciso fé e esperança. Sigo otimista com o futuro, e convido a tirar o foco do problema e pensar de forma resolutiva, diante da recessão econômica, da complexidade política, para poder seguir em frente. Como líder, penso no compromisso de impactar positivamente para transformar a sociedade.

“Não há outro caminho para deixar um mundo melhor se não trabalharmos juntos para reduzir as desigualdades.”

Editora Global Partners

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