O ensino por competências é praticado em outras partes do mundo, como a Europa. Neste continente, a metodologia foi impulsionada pelas políticas educacionais defendidas pela Unesco e OCDE e também pela Declaração de Bolonha (compromisso assinado por ministros de Educação de dezenas de países para reformar o sistema de ensino superior).
Essas três frentes tratam a educação como elemento crucial para o desenvolvimento econômico e social, como destaca o estudo publicado na Revista Francesa de Pedagogia. O texto é assinado por Christian Chauvigné e Jean-Claude Coulet, pesquisadores da Universidade Rennes-Haute Bretagne.
A OCDE criou até um projeto específico para o tema – o Programa para a Avaliação Internacional das Competências dos Adultos (PIAAC) – sob o argumento de que os governos precisam de uma visão clara sobre como seus cidadãos estão se capacitando com as competências exigidas no século 21. Austrália, Áustria, Canadá, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Japão, Itália, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos são alguns dos países que já participaram do estudo, cujos resultados mostram, nas palavras da OCDE, que “o que as pessoas sabem e o que elas fazem com o que sabem exerce um grande impacto sobre suas oportunidades de vida”.
Do campo de influências mais práticas, destaca-se o projeto Tuning, patrocinado pela Comissão Europeia e aderido por dezenas de universidades com o objetivo de desenvolver nos alunos competências gerais e específicas da profissão. Elas são trabalhadas de forma transversal e avaliadas ao longo dos programas de formação.
Para identificar as competências gerais, uma comissão entrevistou profissionais, empregadores e professores de vários países europeus e depois as dividiu em três partes: competências instrumentais, interpessoais e sistêmicas. O mesmo exercício foi feito para identificar as específicas de cada campo de estudos ou atuação profissional.
As universidades de Gothenburg (Suécia), Deusto (Espanha), Aveiro (Portugal) e a Helsinque (Finlândia) são algumas que aderiram, bem como a Universidade de Lyon 2 / Université des Sciences et Technologies de Lille (França), Universidade de Ciências Aplicadas Osnabrück (Alemanha), entre outras.
Todas elas trabalham com a mesma metodologia para manter a possibilidade de intercâmbio – ponto central do sistema educacional europeu. Esse aspecto é o que justifica a manutenção da estrutura por disciplinas, compensada pela abordagem que coloca o aluno no centro do processo de aprendizagem.
A experiência norte-americana
Nos Estados Unidos, o ensino por competências também está em ascensão. As universidades que estão trabalhando com o modelo fragmentaram os cursos em módulos e os tornaram independentes. Os alunos fazem os módulos na ordem que desejarem – e no tempo deles. Enquanto não comprovar por meio de projetos, provas e apresentações que a competência em questão foi adquirida, o estudante não segue adiante.
Um artigo publicado por Dan Berret no site Chronicle of Higher Education mostra que os primeiros esboços da metodologia remontam a 1970, mas que foi no final da década de 1990 que ela ganhou popularidade. A Western Governors University é uma das pioneiras. Seus cursos são a distância e reúnem 62 mil alunos. Em 1991, eles somavam 71 pessoas.
A Southern New Hampshire University é outra instituição de destaque, pois foi a primeira a receber financiamento governamental tendo como base o progresso dos alunos, e não o número de créditos acumulados por eles.
A atuação dessas e outras instituições foi mencionada por Barack Obama em um discurso realizado em 2013. Entre outros pontos, ele disse que as instituições de ensino superior precisavam inovar em seus modelos e citou o aprendizado por competências com um meio interessante de prover qualificação às pessoas de modo mais rápido e, consequentemente, mais barato.
Polêmicas
Alguns enxergam a tendência do ensino por competências como uma submissão da educação aos interesses econômicos. Outros a veem como um modelo que reconhece o papel da educação no desenvolvimento econômico, característica que não prejudica sua função de emancipadora social.
Os pesquisadores franceses Christian Chauvigné e Jean-Claude Coulet afirmam que a discórdia entre os apoiadores e detratores da metodologia não se esgota aí. Os primeiros reforçam que ela propicia a construção de saberes, ajuda a identificar as qualificações desenvolvidas e permite aos alunos se reapropriar do percurso formativo. Os críticos, contudo, acham que ela reduz a educação a fins utilitaristas.
Esse debate também se deve à multiplicidade de modelos e às mutações sociais e econômicas causadas pela reestruturação de vários setores produtivos, pelo remodelamento das profissões e pela evolução da organização do trabalho.
De acordo com o estudo da Universidade Rennes 2-Haute Bretagne, hoje se espera do indivíduo que ele tome iniciativa, se adapte, seja autônomo na realização de tarefas, evolua continuamente e, inclusive, mude de profissão ao longo da vida.
Autor Marina Kuzuyabu