“SE EU NÃO FIZER PELOS OUTROS O QUE NÃO FIZERAM POR MIM, NÃO TERIA APRENDIDO NADA.” INOCÊNCIA MANOEL | PRESIDENTE DA OMEF – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE EMPREENDEDORISMO FEMININO. COFUNDADORA DA INOAR COSMÉTICOS. FUNDADORA DO PROJETO BELEZA SOLIDÁRIA.
Por Paula Guedes Publicado em: 06/08/2021
Inocência Manoel foi convidada do programa ‘Histórias de Sucesso’, da Editora Global Partners, nesta sexta-feira; ela fala de mercado, liderança e diversidade.
Editora: Qual lição aprendida com o cenário da Pandemia?
Inocência: De todas as situações a gente pode tirar lições. Costumo dizer que crises sem precedentes geram viradas sem precedentes. E é para isso que somos feitos: a raça humana é quem pode salvar a raça humana. Sejamos a luz no fim do túnel, dentro do túnel e fora dele também.
A pandemia tem sido uma enorme oportunidade para repensarmos o futuro da humanidade. A Covid-19 não trouxe somente uma crise de saúde global, mas um catalisador para que cada um de nós possa reimaginar o futuro.
Ela é uma chance para que líderes se destaquem – e sairão fortalecidos aqueles que são capazes de fazer mudanças positivas para a humanidade.
Para mim, a maior lição que fica é que toda decisão precisa ser baseada em evidências. Em um mundo em que as fake news reinam, é fundamental agir com base na ciência, em comprovação e dados. Todos nós pudemos ver que as decisões tomadas na ausência de fatos têm implicações de longo alcance para a economia e a sociedade.
Trazendo isso para o nosso universo, acredito que o mesmo acontece nas companhias. Temos que aprender com dados que cada vez são mais acessíveis. Temos que fazer uma real leitura das demandas e desejos de nossos consumidores, entender o momento com base naquilo que acessamos e, acima de tudo, estabelecer uma relação de transparência e verdade com eles. Hoje somos bombardeados por informações muito velozes, em muitos canais. Estes tempos difíceis provocaram uma aceleração emocional com muitos altos e baixos e as pessoas estão sensibilizadas, não há como negar.
Então aprendemos dia após dia a gerenciar esse turbilhão de sentimentos tão diversos, para nos mantermos conectados com os consumidores.
Editora: Qual o perfil do novo líder? E competências/ qualidades que esse novo líder deve ter para conduzir a organização em tempos de crise?
Inocência: O novo líder precisa ter humanidade. Precisa tirar Missão, Visão e Valores do papel, para se tornarem ações reais e tangíveis. As empresas devem mostrar aquilo que preconizam. Não podemos ficar no discurso, temos que partir para a ação. Hoje as pessoas questionam a base e as estruturas das sociedades em que vivem e estão pressionando instituições para resolver a causa dos problemas, não apenas os sintomas.
As lideranças do novo mundo vão precisar ser absolutamente transparentes em suas iniciativas de diversidade e inclusão. Os líderes precisam olhar para pessoas, indivíduos e grupos, e se basear se em experiências, priorizando a ciência e transparência nas mensagens que passam.
As marcas vão precisar se comunicar e se conectar com os consumidores, conservar seus recursos e construir uma comunidade para se manterem relevantes. O que quero dizer com isso é que o novo líder vai olhar para dados e pessoas, garantindo que os colaboradores se sintam apoiados e cuidados durante a crise, trabalhando com suas organizações para priorizar a saúde e a segurança de sua força de trabalho, ao mesmo tempo que fazem escolhas inteligentes para as organizações que lideram.
Ao mesmo tempo, acredito que um maior investimento em sustentabilidade já é caminho sem volta, e que todos nós teremos que os apoiar em soluções de inovação digital, mais democrática e inclusiva, para os novos tempos. O líder do futuro tem que pensar em tudo isso hoje.
No fim, acho que as competências exigidas nem sempre estão associadas somente a altos cargos. Empatia, capacidade de ouvir, colaboração criativa e envolvimento autêntico com os funcionários: essas qualidades são predominantemente associadas às mulheres (embora, obviamente, não exclua os homens) serão fundamentais para qualquer executivo.
Editora: O que vc tem feito para influenciar o mercado em relação a adversidade?
Inocência: Estar conectada com pessoas e para pessoas foi o que me moveu até hoje e uma das razões de eu ter criado um projeto social que nasceu junto com a Inoar.
O projeto Beleza Solidária no qual investi tempo, dinheiro e afeto é também a minha verdade. Eu precisava tornar mais tangível tudo o que vem sendo feito nestes anos todos de ações em busca de melhorias para as pessoas menos favorecidas. E nesse momento cheio de adversidades, trabalhamos como nunca no projeto.
O melhor remédio para curar nossas dores é curar as dores dos outros. Tenho dito isso desde o começo da pandemia
Desde o início, realizamos inúmeras doações e apoiou causas em todo o estado de São Paulo. Foram diversas instituições atendidas, com produtos de higiene, álcool em gel, além de cidadãos, com cestas básicas. Até o momento, já foram distribuídos mais de 20 mil kits – contando com produtos de higiene e álcool gel – e milhares de cestas básicas.
Foram realizadas doações para hospitais, UBSs e UPAs do Taboão da Serra (SP), ONGs parceiras, refugiados, para a classe artística, para a comunidade de Paraisópolis, para a cidade de Assis, no interior de São Paulo, onde fica a sede do projeto, para a Central Única de Favelas (CUFA), entre muitas outras.
Estas ações alinham-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), que assinei em 2019.
Se todos fizermos a nossa parte, ninguém fica para trás.
Editora: Devidamente reconhecido (a) como uma História de Sucesso, qual mensagem você deixa para as próximas gerações de mulheres?
Inocência: Em 2020, assinei um compromisso da ONU pela Igualdade de Gênero, porque reconheço que minha história tem, sim, sucesso, mas ela é a minha história – nem todo mundo tem as mesmas oportunidades e precisamos mudar isso.
Ter mulheres e meninas com os mesmos direitos que homens e meninos é a base necessária para a construção de um mundo pacífico, próspero e sustentável. Infelizmente, essa é uma barreira daquelas que temos que transpor se quisermos fazer algo real pelo mundo. Porque há um caminho muito grande até promovermos uma mudança efetiva.
Se não fosse o apoio de uma rede enorme de mulheres em minha volta, e de alguns homens que também souberam me valorizar, sem preconceitos, eu não estaria onde estou. Nós, mulheres, temos uma capacidade enorme de gerenciar muitas atividades ao mesmo tempo. Temos maior probabilidade de desenvolver estruturas de gestão mais democráticas, priorizamos a comunicação clara e decisivas e os relacionamentos pessoais. Nós somos capazes!
Todas nós temos em nossas mãos o poder de mudar o mundo. Não se intimide. A nossa força é o que nos move para a frente. Não fique calada. Nós nascemos para caminhar lado a lado na liderança. Nenhum passo atrás.
Editora: Você está lendo ou ouvindo algum livro neste momento?
Inocência: Estou lendo A Bailarina de Auschwitz, e estou encantada com a história de Edith Eger, que teve de dançar para Josef Mengele e sobreviveu aos horrores dos campos de concentração. Essa história me marca pela sua realidade e pela coragem desta mulher. Gosto muito de livros em que as pessoas ultrapassam barreiras que achamos ser humanamente impossíveis de transpor. Me sinto uma sobrevivente por minha história, por sair de onde eu saí, por ter vivido uma vida muito difícil mesmo nos momentos em que parecia estar tudo bem.
O que me encanta nos livros baseados em fatos reais é poder traçar paralelos com a sua vida. Encontro ferramentas para lidar com as minhas próprias dificuldades. Neste livro, a autora diz que tudo na vida é uma oportunidade. E imagina dizer isso quando você esteve em um campo de concentração? Essa mulher foi forjada a ferro ali e buscou os recursos de sobrevivência dentro dela mesma. Para mim o sentido da vida é este: as respostas estão dentro de você, não adianta procurar em outras pessoas.
Eu tive muitas dificuldades no meu caminho: nasci em uma família que nem sempre teve recursos. Não pude concluir meus estudos – cursei a faculdade de Letras da Unesp até o 3º ano e abandonei o curso porque não suportava mais os preconceitos de uma cidade do interior e a falta de oportunidades. Me mudei sozinha para São Paulo pois precisava ganhar mais para sustentar meu filho. Rompi com padrões e fui muito julgada. Não tive nunca respaldo financeiro. E ainda tive que lidar com machismo, preconceito nesta jornada. Achava que isso teria fim com o sucesso na carreira, mas não. Continuo na luta, e nunca reclamei. Fui indo para a frente, sabe? Porque a resposta sempre esteve dentro de mim. E por isso gosto dessas histórias reais. Isso para mim é sobreviver, isso é sucesso verdadeiro.
Inocência Manoel – A mulher que revolucionou o mercado da beleza no Brasil. Cofundadora da Inoar Cosméticos, cursou a Faculdade de Letras pela Universidade Estadual Paulista – UNESP e é graduada em Teologia pela Igreja Batista de São Paulo. É autora das publicações Desvendando os Segredos do Argan (2012) e da coleção Manual dos Cabelos (2013). Atua como palestrante nacional e internacional e detém os títulos de Presidente da OMME – Organização Mundial de Mulheres Empreendedoras e Embaixadora da Paz, pela Associação das Mulheres pela Paz Mundial – Women’s Federation for World Peace – ONG internacional reconhecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas cujo principal objetivo é incentivar as mulheres a trabalhar mais ativamente na promoção da paz em suas comunidades e sociedade.
Veja sua história completa no link abaixo.
https://exame.com/blog/historias-de-sucesso/inocencia-manoel-a-alquimista-dos-cabelos/