Cristina Y. Yamada – Vice-presidente na RDI part of Capgemini

Todo mundo tem espaço para crescer, quando se tem determinação e resiliência.

Todo mundo tem espaço para crescer e se desenvolver, quando se tem determinação e resiliência. Minha trajetória é um exemplo de como através da paixão pelo conhecimento consegui trilhar uma carreira que, para além do reconhecimento profissional internacional, proporcionou ricas experiências de vida.

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Sou natural de São Paulo, mas minha família é de origem japonesa, meu pai, Hiromichi Yamada, nasceu no Japão e veio para o Brasil após a Segunda Guerra, já minha mãe, Satiko Aoki, é filha de japoneses radicados no Brasil. Minha educação recebeu grande influência da cultura japonesa, especialmente no que tange à ética, ao respeito ao próximo, à cooperação, à gratidão e à disciplina. Cresci no meio de doutrinas budistas, e por influência de minha mãe, desde cedo, como voluntária, dando aula de dança para crianças carentes. Essa experiência se mostrou muito rica, pois possibilitou que eu aprendesse sobre liderança, empatia, disciplina e trabalho em equipe, habilidades importantíssimas para a minha carreira no futuro. Para além de ensiná-las, organizamos eventos para angariar fundos para viabilizar a ida destas crianças aos treinamentos.

Minha mãe também sempre priorizou nossa educação, ela dizia que o maior legado que deixaria para os filhos era a educação, por isso sempre estudamos nos melhores colégios que meus pais podiam pagar com seus ordenados, de funcionária pública e de fotógrafo.

Como resultado dos esforços dos meus pais, cresci gostando muito de estudar e de ler sobre temas diversos, o que dificultou sobremaneira a escolha da faculdade, pois, ao mesmo tempo que eu era muito boa em Matemática, em Física e em Química, eu adorava Filosofia e História. Optei por fazer duas faculdades: Direito na São Francisco – USP de manhã, e Processamento de Dados na FATEC, no período noturno. Posteriormente, fiz o MBA de Tecnologia da Informação na FEA – USP.

Aliás, sempre me identifiquei com a citação do filósofo grego, Sócrates: “Só sei que nada sei” (470 a.C.-399 a.C.), essa sempre foi uma verdade para mim, e por ser também muito curiosa, sempre busquei aprender coisas diferentes.

Iniciei minha carreira no programa de estágio da PRODAM (Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo), que me proporcionou uma excelente capacitação técnica e formação profissional na área de Tecnologia da Informação. Sua sede ficava dentro do Parque Ibirapuera, um lugar maravilhoso. Lá, conseguia conciliar trabalho e qualidade de vida, além de fazer grandes amizades, que mantenho até hoje.

A PRODAM tinha já à época um forte programa de inclusão, assim, tive a oportunidade de trabalhar com muitas pessoas com deficiência visual, e com eles pude aprender uma maneira diferente de “ver a vida”, através da audição, dos aromas, de buscar alternativas e de desenvolver habilidades que se sobrepusessem aos desafios. Desta experiência aprendi muito sobre o valor da resiliência e da diversidade.

Durante este período, fui também muito privilegiada, pois fui selecionada para atuar em uma equipe de Projetos Especiais e participei em projetos de alta visibilidade da empresa à época. Lembro-me do projeto na Câmara de vereadores de São Paulo, em que desenvolvemos um sistema de automatização dos processos legislativos, que visava prover maior transparência no trâmite legislativo. Nesta época, aprendi muito sobre como navegar e interagir junto ao cliente, e sobre o impacto da tecnologia nos processos de negócio. Cresci bastante na área: entrei como estagiária e saí como desenvolvedora sênior.

Mas esta experiência também me mostrou um outro lado; na PRODAM, a cada quatro anos havia uma mudança de gestão, o que gerava mudanças também na equipe, e nem sempre as pessoas que permaneciam eram escolhidas pela sua competência, e sim, muitas vezes, por influência política. Isso me fez perceber que a questão ética era mais relevante para mim que aquele cargo em si, então, decidi sair da PRODAM e buscar uma empresa em que eu pudesse conquistar meu espaço pelo meu valor e pelos resultados atingidos.

Assim, saí da PRODAM para a Unilever, em que tive uma experiência muito boa, porém breve, pois logo surgiu a oportunidade de atuar em um projeto grande junto ao McDonald’s Brasil. Minha entrada no McDonald’s aconteceu de forma curiosa, eu estava na recepção, aguardando para o processo seletivo, quando entrou pela porta Gregory Ryan, o então presidente da empresa. Ele entrou cumprimentando a todos, com gentileza, respeito e muita delicadeza, do diretor à copeira. Esse breve encontro me tocou de uma forma profunda, e eu decidi naquele mesmo instante que aquela era a empresa que eu queria me desenvolver. Assim, ingressei na área de Tecnologia do McDonald’s Brasil, que à época contava com somente 60 restaurantes, e acompanhei toda a expansão da cadeia, que chegou a 600 restaurantes, até o momento em que saí. Ali, eu tive uma trajetória de ascensão muito rápida, migrando da área técnica para a área de Negócios.

Minha paixão é resolver problemas complexos

No McDonald’s Brasil tive a oportunidade de ver a tecnologia sendo aplicada na prática, durante a implementação de vários projetos complexos dentro dos restaurantes, e me apaixonei por esta área, que é inclusive o segmento em que eu atuo até hoje. Os produtos que desenvolvemos na época me deram a oportunidade de enxergar o impacto que estas soluções tinham no dia a dia de tantas pessoas e clientes, e isto é algo fascinante para mim.

Fui convidada pela área de Negócios para uma transferência para um novo departamento, recém-criado. Assim, saí da área de Tecnologia para trabalhar na área de Desenvolvimento de Projetos, composto por profissionais de diversas áreas: Tecnologia, Treinamento, Desenvolvimento de Operações. Esse time era responsável pela criação e pela modernização de processos dos restaurantes, um trabalho que exigia que estivéssemos em contato direto com a linha de frente dos restaurantes, desenvolvendo e implementando vários projetos, por exemplo: otimização do drive-thru, planejamento de mão de obra, produção, etc.

Foi um período enriquecedor, que culminou em um convite para atuar na área internacional junto ao McDonald’s Corporation – outro grande marco em minha carreira.

Trabalhei em um projeto que se chamava “Store of the Future” e que visava automação de processos de restaurantes. Durante este período, pude ampliar minha experiência na área internacional, nossa missão era a implementação global desta solução. Aprendi muito sobre diferenças culturais, formas de comunicação, metodologias de trabalho; várias viagens e uma extensa agenda eram parte da rotina para atender a diferentes fusos horários.

Dentre os vários países, o projeto do Japão foi uma experiência única, além da grande diferença de fuso horário, que exigia extensas horas de trabalho, existem diferenças culturais significativas.

Em minha inocência, acreditava que devido à minha ascendência de origem japonesa muito tradicional, qualquer tipo de interação com o Japão seria tranquilo; país, aliás, que eu havia visitado algumas vezes antes. Mas, na verdade, descobri que fazer negócios no Japão era algo totalmente diferente do que eu já havia experimentado. Senti de forma intensa a pressão e os desafios de ser uma mulher, algo ainda de grande peso, na época; brasileira, portanto, estrangeira, representando uma grande corporação americana.

Este foi um projeto importantíssimo para a organização, e se mostrou um grande sucesso, tendo sido inclusive premiado dentro do McDonald’s e, como reconhecimento pessoal, fui promovida a diretora global do produto.

Eu estava no auge de minha carreira, mas como acontece com grande parte das mulheres, nesta mesma época, eu engravidei. Foi em meados de 2007. Concomitantemente, o McDonald’s Corporation decidiu vender toda a sua operação no Brasil para a Arcos Dourados, que permanece sendo a operadora no Brasil até hoje. Em decorrência dessa venda, ofereceram-me uma realocação em Chicago, porém, como o meu filho, Pedro, havia acabado de nascer, estava ciente das exigências que me seriam impostas e do ritmo de trabalho acelerado, então decidi não aceitar e permanecer no Brasil.

Como contraproposta, o McDonald’s Corporation me ofereceu uma oportunidade junto a um de seus fornecedores. Eu preferi permanecer no meu país, com minha família, que tem uma importância muito grande em minha vida, e acompanhar de perto a infância do meu filho, afinal, era um momento único.

Foi assim que entrei na Torex (após várias transições, hoje RDI), uma empresa pequena, na época, em que o meu papel era o de cuidar do relacionamento com o McDonald’s e da gestão de contratos. Nesta época criei também uma área de Gestão de Projetos, algo que eu fazia com primazia. Desenvolvi essas áreas e criei processos para regulamentar a gestão de contratos com o McDonald’s.

Dois anos depois, o McDonald’s adquiriu essa empresa e me convidou, junto com Iuri Barros, para liderar a empresa. Nosso desafio era preparar a empresa para a expansão. Juntos, reestruturamos os processos de Recursos Humanos, financeiro, jurídicos, administrativos; a empresa pode se adequar às exigências do mercado e alinhar sua estrutura às necessidades do McDonald’s Corporation.

Além disso, durante este período expandimos e reestruturamos os centros de excelência para viabilizar a adoção padronizada das soluções pelos restaurantes do McDonald’s. Liderei globalmente os centros de excelência em Chicago, Londres, Sydney, Budapeste, Paris, Tokyo e São Paulo. Aprendi muito durante este processo, sobre gestão frente a diferentes culturas, legislações, contratos, operações internacionais, etc. Essa fase foi marcada por muitas viagens e oportunidades de intercâmbio cultural, e me senti extremamente realizada profissionalmente.

Em 2017, houve outra mudança no McDonald’s e a empresa decidiu vender a operação da RDI para a Capgemini, uma grande empresa multinacional, que conta com mais de 358.000 funcionários em 50 países, em que eu permaneço como executiva, aprendendo algo completamente diferente, agora na área de Consultoria.

Foram inúmeros aprendizados durante minha jornada, seguem alguns que quero salientar:

Mudanças são inerentes à vida, resiliência é fundamental.

Olhando para trás percebo que pequenas conquistas abriram portas para grandes oportunidades, principalmente porque estavam associadas a um grande ganho de conhecimento. Dar aulas de programação para os deficientes visuais, por exemplo, moldou meu percurso, pois aprendi a ter resiliência e a incluir as diferenças como líder.

Nesta jornada, por muitas vezes ouvi que eu não cresceria em minha carreira, porque não jogo golfe e não bebo. Vi-me várias vezes em viagens e reuniões nas quais eu era a única diferente, mas aprendi lá no início da minha carreira, com meus colegas deficientes visuais, que podemos ser exatamente como somos, quem somos, pois todos têm o direito de ser o que desejar; e há, sim, espaço para quem quiser crescer, afinal de contas, o diferente não é ruim, pelo contrário, equipes diversas são um grande diferencial, hoje, para qualquer empresa.

Procuro enfatizar junto ao meu time a necessidade de inclusão da diversidade, seja ela de gênero, cor ou idade, porque acredito que um time híbrido mostra, em muitas situações, o nosso “ponto cego”. Hoje, na Capgemini, apoio programas de inclusão de mulheres na área de Tecnologia, e nossa equipe já conta com cerca de 30% de mulheres.

Não deixe de ser quem você é.

Este foi um dos melhores conselhos que recebi, e ele me foi dado pelo pediatra do meu filho, o Dr. João Coriolano Rego. Quando meu filho era ainda muito pequeno, passei por vários dilemas e tive que decidir várias vezes entre minha vida pessoal e a minha carreira. Este pediatra, muito sábio, aconselhou-me: “ser mãe é só um entre os diversos papéis que uma mulher exerce na vida, não deixe de ser quem você é, este é só mais um papel”. Foi um dos melhores conselhos que eu ouvi e que me ajudou em muitas decisões difíceis e importantes que eu tive que tomar.

Aprendi a identificar e a equilibrar. Há situações que não podemos recuperar, pois são irreversíveis, e outras que podemos abdicar. Decidi dar mais peso à família naquele momento, retrocedendo um pouco na carreira, e descobri que às vezes é preciso dar um passo atrás para depois dar três passos à frente. E assim foi, todas as vezes que eu precisei me movimentar, retroceder, no final cresci. Afinal, o que importa não é o título que te dão, e sim o espaço de liderança que você ocupa, independentemente de cargo.

Descobri que, sim, apesar dos desafios, é possível conciliar vida pessoal, profissional e manter-me íntegra à minha essência e aos meus valores pessoais.

Impacte positivamente e esteja aberto a aprender.

Como líderes, influenciamos e temos um impacto significativo na vida de várias pessoas, portanto, trabalho em equipe, cooperação, empatia e ética, acima de tudo, são cruciais. O líder deixa um legado, além de uma linha de sucessão, logo, é essencial ter apurado cuidado com a marca que se deixa. Eu digo sempre ao meu time que muitas vezes passamos mais tempo com nossos colegas de trabalho que com a nossa família, e esse esforço tem que valer a pena, não apenas do ponto de vista profissional, mas também como crescimento pessoal para todos.

Tenho a tendência a ser perfeccionista, mas aprendi que, às vezes, é preciso aceitar o suficiente para seguir em frente, isso para mim é uma batalha constante. Superar meus próprios desafios foi a base para o meu desenvolvimento profissional e pessoal, por isso, aconselho aos jovens profissionais a conhecer seus pontos fortes e fracos e a investir em inteligência emocional, pois isso é o que difere um profissional de sucesso, cada vez mais.

Estamos em um momento absolutamente inimaginável, pós-Pandemia de Covid-19, sofrendo os impactos globais da guerra, um cenário impensável há alguns anos, inclusive com um acelerado ritmo de mudanças tecnológicas, sociais e econômicas, que nos coloca, como líderes, sob extrema pressão. Em vista disso, é de suma importância que nós, como líderes, possamos promover às nossas equipes um ambiente saudável. Para tanto, precisamos dos nossos times de profissionais com atitude autocentrada, pessoas que interajam bem em equipe e que consigam acompanhar o ritmo das mudanças, para que juntos todos possamos impulsionar a organização rumo ao futuro.

Neste contexto, o aprendizado contínuo e a maturidade para viver um dia de cada vez, como é ensinado há séculos pelo budismo, são essenciais. Considero este o meu grande desafio atualmente, visto que minha função principal é o planejamento, preciso estar sempre pensando em longo prazo, então é um exercício complexo permanecer no presente, mas a pandemia nos fez rever este ensinamento, pois é preciso viver o presente.

Ao longo da minha jornada, tive a sorte e a honra de conhecer pessoas excepcionais que me ensinaram muito, são exemplos de vida e me conduziram neste caminho contínuo de crescimento e de autodesenvolvimento.

Sou muito grata ao Marco (meu marido), o Pedro (meu filho), minha família e amigos, que sempre me apoiaram durante esta jornada, aprendi com grandes líderes na minha trajetória, que contribuíram para que eu construísse uma carreira de sucesso, como Tiemi Hirota, Erich Roedel, Ivo Andrade, Paulo Metello, Elcio Grassia, David Tron, Phil LeBrun e Jennifer Donath. E agora, na Capgemini, Alex Christen tem me ajudado a navegar neste mundo novo de Consultoria.

Gratidão Sempre – Sempre Gratidão.

Livro físico  https://loja.editoragp.com.br/historias-de-sucesso/historias-de-sucesso-10

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